Intérprete do vilão José da Maia na novela da SIC Rosa Fogo, o actor admite que a maldade cénica está a sugá-lo. Dorme mal, sente-se "descontrolado". Samora partilha com a NTV as "feridas" e o medo de ir preso após o processo movido pela TVI. Prestes a celebrar 34 anos de carreira e 52 de vida, Rogério Samora põe o futuro nas mãos do destino...
A personagem José da Maia em Rosa Fogo (SIC) é o seu mais recente desafio profissional em televisão. Trata-se de um homem cruel, ganancioso e calculista. Este é o maior vilão que já fez enquanto actor?
Sim. Posso dizer que o que estão a ver em casa é um "mar de rosas" comparado com o que ainda vai chegar...
Vai, inclusive, aterrorizar a vida da pequena Matilde Mayer [papel entregue à jovem actriz Matilde Miguel]. Como tem sido vestir a pele de um homem tão horrendo?
Numa novela, que é um produto de longa duração, a maldade, sendo tão prolongada, pode afectar-nos. Ela ataca o que temos de mais vulnerável: as emoções e os sentimentos. As cenas com a miúda mexem com a luta entre o Bem e o Mal e isso fez "clique" em mim, não sei explicar...
Clique?
Neste fim-de-semana passei mal: tomei comprimidos para adormecer, dormi três horas de sábado para domingo... Já pedi à autora, a Patrícia Müller, que pare com isto.
O que pediu para ser alterado?
Tem de haver limites para a maldade, isto afecta-me a mim e irá afectar o público. A Matilde é uma criança, seja enquanto personagem ou na vida real.
E que feedback recebeu da SIC?
A Patrícia Müller diz para eu ter calma, que nada de mal me vai acontecer.
O José da Maia está a perturbá-lo e a mexer consigo interiormente?
Talvez esteja com medo do efeito que a minha maldade possa ter na criança. Estou com medo que ela comece a não ter medo do mal. Ou, caso o mal lhe apareça à frente, ela ache que não passa de uma brincadeira. A verdade é que me faz confusão, impressão... Nunca me tinha acontecido isto.
O que o incomoda nas cenas em que contracena com a actriz Matilde Miguel?
Escrever, por exemplo, no diário da miúda. Vou fingir que sou a mãe da miúda como se tal pessoa pudesse escrever do céu para uma filha... Gravei essas cenas, não foram fáceis. Desatei a chorar, tiveram de parar as gravações, precisei de me isolar.
Ao fim de tantos anos de experiência a representação pregou uma rasteira...
Sim, é uma verdade. Estou descontrolado e não gosto. Gosto de ser o manipulador da marioneta, entende? Desta vez, baralhei tudo. Este vilão tira-me o sono. Tenho tiques da personagem quando chego a casa. Olho-me ao espelho e não me vejo a mim. Sobretudo faz-me confusão o sorriso de escárnio.
Inspirou-se em alguém próximo de si ou em outras figuras para encarnar este papel?
Misturei um pouco de Hannibal Lecter [personagem interpretada por Anthony Hopkins no filme O Silêncio dos Inocentes], de Joker [interpretação do actor Heath Ledger no filme Batman] e ainda vi o filme O Advogado do Diabo. Estas são três figuras que representam o Mal de modo simpático e o José da Maia diverte-se muito a fazer mal aos outros.
Está mais magro. Fez dieta? Foi uma característica de que quis dotar esta personagem?
Emagreci três quilos desde que comecei a gravar. Não posso comer durante as gravações porque pára-me a digestão. E portanto como apenas na hora de pausa, que é a hora de almoço.
Está a gravar cenas de Rosa Fogo há quatro meses. Ainda terá muitas cenas pela frente...
Não sei se estou a fazer um bom trabalho, não sei para onde isto vai mas digo-lhe sinceramente: Estou-me borrifando! Se me perder completamente, alguém vai ajudar-me a encontrar-me. Nunca me aconteceu isto, já agora vou viver esta experiência.
Assume o seu desequilíbrio emocional. A loucura assusta-o?
Tenho de ser racional com esta personagem. Não posso ser emotivo, porque se for não me levanto mesmo! Vai o INEM a minha casa depois de eu ter um AVC. Mas, se morrer amanhã, fui muito feliz. Não tenho medo da morte.
Não? Tem apenas 51 anos.
A morte faz parte da vida. O erro está em não nos ensinarem desde miúdos que um dia todos morremos. A minha avó materna perdeu a filha antes de ela morrer. Uma, foi-se embora há seis anos e a outra há dois. Também acho que ainda não fiz os lutos, e tudo isto junto... Não só não fiz os lutos como, e vou confessar-lhe, ainda não tive coragem de visitar nenhuma delas no sítio onde elas estão.
Não há dúvida de que o ano de 2011 tem sido conturbado e de emoções fortes...
Em Janeiro e Fevereiro estive fechado em casa com a ideia de que ia ser preso e que nunca mais ia trabalhar na minha vida...
Aqueles dois meses afectaram-me muito. Quando batemos no fundo, escorregamos e caímos na lama, depois, quando renascemos, tornamo-nos mais fortes.
Está a referir-se aos dias após a TVI lhe ter colocado um processo em tribunal quando, em Dezembro, rescindiu o contrato com a estação de Queluz de Baixo.
Apesar de todos os advogados me terem dito: "não corres nenhum risco. Podes perfeitamente rescindir o contrato", a ameaça do lado de lá era tão grave e manipuladora que nem me apercebi do mal que me estava a fazer. Passava os dias sentado no sofá a fumar cinco maços de cigarros à espera de ir novamente para a cama. e queriam magoar-me? Conseguiram.
Na sua opinião, quem foi injusto consigo?
Não digo nomes porque sou educado. Mas escusava de ter ouvido: "Prefiro que fiques parado do que ires para a SIC." E ouvi-o de um administrador. Cheguei a ter medo de ser preso! E isso, diga-se, não é normal. Não assinei nenhum pré-acordo. Queria apenas ver-me livre de algo em que deixei de acreditar. Pergunto: porquê fazer mal? Para quê fazer mal? Um líder não tem de ter medo. Não é com medo que se faz a liderança e, de repente, ficam com medo. A TVI não era assim antigamente...
A TVI perdeu a capacidade de liderar e o lado mais familiar com a saída de José Eduardo Moniz, antigo director-geral?
O José [Eduardo Moniz] é um grande profissional. Sabe muito bem o que faz e é muito inteligente a maneira como convence as pessoas.
Sentiu saudades de Moniz?
Senti: E agora falo com quem? E agora quem é que me manda mensagens a dizer bem ou mal das cenas? Ou, agora, quem é que me dá força e diz: "Vai em frente, rapaz!" Ele é um grande amigo que eu tenho.
Qual a situação actual do processo?
Não existe nada em tribunal. O contrato foi rescindido. Isto é como num casamento, quando uma parte é infeliz, diz adeus e vai-se embora. A justiça em Portugal pode ser lenta, mas funciona. Este foi um período da minha vida que encerrei. Agora, é tentar levantar-me porque emocionalmente isto não vai ser fácil.
A TVI é uma porta encerrada para si? Voltaria a trabalhar na TVI?
Na TVI, na BBC... Não sei o dia de amanhã nem a TVI sabe. Sei que sou actor hoje, fui actor ontem e serei amanhã. Quem está hoje na TVI ou na RTP pode não estar amanhã, mas eu continuarei a ser actor.
Sente que deve um pedido de desculpas à estação? Ou a TVI a si?
O destino talvez me deva um pedido de desculpas.
O destino?
Sim, por não me ter avisado de que não devia ter marcado uma reunião e deveria, sim, ter ido um advogado meu falar com a TVI.
É inevitável perguntar: que diferenças reconhece entre as produções da SIC e TVI?
Não há diferenças. As melhores novelas estão aqui, na SIC. A vontade de inovar está aqui. O futuro da ficção passa por este lado, acredite no que lhe digo. E daí o meu instinto, o meu desejo de fechar um ciclo concretizou-se.
A SIC aproximou-se da liderança da TVI no que respeita à ficção nacional com a novela Laços de Sangue que teve supervisão da TV Globo. É uma aliança que a SIC deve perpetuar?
A SIC tem feito um percurso lento e sem hostilidades, sem guerras e arrogância. As coisas começaram comPodia Acabar o Mundo, Perfeito Coração, Laços de Sangue, Rosa Fogo... Acho que a TV Globo ganha em sectores em que que temos falhas.
Quais?
Temos falhas no sector da escrita e das ideias. Eu acho que o Pedro Lopes é uma excelente descoberta para a ficção em Portugal e a Patrícia Müller tem uma escrita diferente e é boa no que faz. No Brasil, a escrita, as ideias e as equipas funcionam muito bem. Eles tiveram textos brilhantes para adaptar. Eu digo sempre: Aproveitem os clássicos! Está lá tudo! É só recriar. Aliás, acho que este século vai ser uma reciclagem de todos os séculos.
Faz 34 anos de carreira a 9 de Novembro. Quando olha para trás, o que sente? E o que vê actualmente no espelho?
Sinto que não se passou nada. Para a frente é que é o caminho. Detesto recordações, deito tudo fora.
Qual é o seu maior feito enquanto actor?
Tenho só algumas coisinhas. Um filme, O Capacete Dourado, em que fiz um papel secundário e de que gostei muito. Gostei também de fazer O Delfim. Olhe, sei lá... fiz 58 filmes e 164 personagens. Sabe? Se olhar para trás, fico lá a recordar cada trabalho, cada frase dita...
E do que mais se arrepende desta travessia que o levou a trabalhar em cinema, teatro e televisão?
De ter dito "não" a algumas propostas e convites. Houve uma encenadora, não vou dizer o nome, mas foi a pessoa que me fez sentir mais feliz no teatro, que deixou de me falar porque lhe disse por duas vezes que não. É por isso que não se deve misturar a amizade com o trabalho. E acho que foi esse o problema com essa estação de televisão. Eles achavam que eu era um produto deles, que eram donos de mim. Nem com uma mina de ouro... Nem que me oferecessem uma mina de diamantes em Angola ou a Miss Universo eu ficava lá.
Quando trabalha em televisão, prefere interpretar personagens sedutoras e românticas, como fez nas novelas da TVI Flor do Mar e Mar de Paixão?
Não há personagens de que não goste. Não gosto é de viver sem gostar e custa-me dizer um 'não'. Mas cansei-me de fazer três personagens seguidas e muito semelhantes. Tinham uma linha de vida idêntica: dava vida a um homem com filhos que tinha problemas e, no fim da novela, era avô. Comecei a sentir-me "fora do barco", a ter o sentimento de que estava a fazer personagens mais velhas do que eu. Adorei, sim, fazer a novela Fascínios [TVI] e mergulhar naquela filosofia de vida em que a família é o mais importante de tudo.
E como é para si dar vida a cenas de violência doméstica? O José da Maia vai agredir a Eduarda Rodrigues (Helena Laureano).
Não sei se podemos chamar violência doméstica àquilo. Ele não a ama, não sente nada por ela e até sente um pouco de nojo. Ela não é o tipo de mulher de que ele gosta, haverá uma outra de que ele vai gostar, mas que só vai aparecer lá mais para a frente. Se ela tem de levar para perceber que ele está perturbado, leva. O problema é dela, ela volta sempre.
Na novela Rosa Fogo protagoniza cenas quentes com a actriz Helena Laureano? São cenas fáceis de fazer?
Tudo depende da confiança que se tem e eu já trabalhei várias vezes com a Helena.
Está na moda actores portugueses trabalharem em novelas da TV Globo. Gostava, um dia, de mudar-se para o Brasil, para trabalhar e integrar produções brasileiras?
Gostava de ir até lá fazer uns workshops, aprender mais, ver como trabalham. Tudo dependeria do convite. Sei que em Março vou até lá gravar um filme com a realizadora Ana Carolina Teixeira Soares, se estiver vivo! (risos)
Está prestes a completar mais um aniversário. Faz 52 anos no dia 28 deste mês. Vai festejar? Como?
Se esta personagem não me matar, não me levar ao suicídio e não acordar com o Diabo ao meu lado, será uma festa de arromba. (risos)
Que idade tem o Rogério Samora?
Eu? 51 anos. Diria uns 163... tenho tanto de anos como de personagens que já fiz. Mas sinto-me um pré-teenager, com uns 11 ou 12.
Porquê?
Porque gosto imenso de me divertir, de brincar. Gosto de pensar que tudo isto é irreal, que não existe o Bem nem o Mal.
Esconde atrás de si a imagem de ser inquebrável e até já nos disse numa outra entrevista: "Sou um bocado bicho-do-mato." Porque receia tanto dar-se aos outros?
Acho que deve ter que ver com a ruptura de ter sido educado pela minha avó até aos 7 anos e dos 7 até aos 18 ter sido criado pelos meus pais. Nunca fiz análise nem psicanálise, mas estou a pensar fazer. O meu advogado deu-me o contacto de uma psicanalista e (suspira) acho que vou telefonar-lhe. Tenho ali, de facto, uma fractura... É como se, até hoje, tivesse vivido com duas partes que tenho de juntar e aceitar.
Acredita que sessões de psicanálise vão ajudá-lo a acertar contas com o passado?
Acho que pode ajudar imenso.
"Há coisas que deixo nas mãos do destino" é outra frase sua. E, ao longo desta conversa, já mostrou que acredita nesta força. O que acha que o destino lhe tem reservado?
Tudo o que eu quiser. Talvez me dê mais 44 anos de vida, isto se o José da Maia não der cabo de mim! Mas se der, era o destino...
Notícias TV
O que é que este tipo andou a fumar???
ResponderEliminarDeclarações absolutamente irreais e idiotas!!!
ResponderEliminarA sic devia avisar este tipo de pessoas que de repente se julgam estrelas de hollywwod só porque fazem folhetins na tv e ganham 5.000 Euros por mês, para não dizerem este tipo de disparates na imprensa pois quem lê isto pensa que a sic contratou um lunático encartado!
Comparar-se com Anthony Hopkins, Al Pacino e Heath Ledger é obra!
Até parece uma formiga a dizer que é do tamanho de um elefante! Sinceramente. Coitado, pelos vistos está mesmo muito mal da cabeça!
Bem sei que a novela é um flop e que este tipo de declarações desesperadas tenta fazer com que se fale da desprezada trama mas em vez de despertar a atenção do público esta sucessão de disparates só ridiculariza o actor em questão e a estação para que trabalha.
ajudem o rogerio samora o homem diz tudo como os malucos qualquer dia vai para os jornais dizer que é o melhor actor do mundo e que está possuído pelo espírito do marlon brando o fulano até já diz que quer ir para a globo como se ir para globo fosse a mesma coisa que ir para o cartaxo
ResponderEliminarinacreditavel o que este senhor debita nesta entrevista perdeu completamente a noção da realidade e faz declarações que não lembrariam ao diabo a sic tem que tomar providências e não deixar que estes delírios venham a público
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