Bastonário critica conselhos 'médicos' de Maya

A taróloga recomendou a uma espectadora que contrariasse uma indicação médica e afirmou que o seu caso estava a ser mal conduzido. José Manuel Silva considera as afirmações "gravíssimas".

Amor, trabalho, dinheiro e saúde são os temas mais recorrentes de Cartas da Maya - O Dilema, programa em que a taróloga procura responder às questões de quem a consulta. Numa das últimas edições, Maya recebeu o telefonema de uma mulher que tinha partido a bacia e estava acamada. Depois de ouvir os queixumes, Maya não foi em rodeios e atirou: "Sugiro que vá a uma clínica e não a uma urgência hospitalar, porque não têm dado a devida atenção ao seu caso. Têm tentado resolver, mas sem conseguirem. Tem de ir a uma clínica, ou seja, pagar para ter saúde, porque precisa de ser operada para ser tratada convenientemente. A sua situação tem solução, mas não está a ser bem conduzida, de todo", explicou.

Perante estas afirmações, o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, sai em defesa da sua classe e considera que a postura da taróloga é "abusiva". "Dizer em direto que a doente está a ser mal seguida é errado, principalmente vindo de uma pessoa que não tem qualquer formação médica. É muito grave que ela tenha passado um atestado de incompetência ao médico que seguiu o caso dessa senhora sem sequer conhecer o seu historial", diz.

Mas a taróloga foi mais longe e, segundo o que as cartas de tarot lhe transmitiam na altura, aconselhou a doente que a consultou a sair da cama, contrariando assim o que o médico lhe tinha indicado. "O repouso absoluto não está a pôr as coisas no lugar. Quando se parte uma coisa é preciso pô-la no sítio, o repouso absoluto não chega", disse. Perante a insistência da mulher em continuar acamada conforme o médico lhe tinha recomendado, Maya foi mais direta e até irónica: "E agora como é que o osso cola, é estando deitadinha? E se o osso ganha um calo no sítio errado?", questionou Maya no decorrer da conversa.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, ninguém está no direito de contrariar indicações médicas via televisão, sob pena de prejudicar o próprio paciente em causa. "Para já, um aconselhamento médico feito com base na astrologia, além de ser leviano, é um risco tanto para quem os dá como para quem os recebe", começa por explicar. "Ela não pode nem deve aconselhar um doente contrariando uma indicação médica. É um abuso que pode causar malefícios ao paciente. A Maya, com a sua aparente segurança a falar de assuntos médicos, pode levar doentes menos informados a terem atitudes menos corretas", completa José Manuel Silva.

Confrontada com as críticas do bastonário da Ordem dos Médicos, a taróloga da SIC defende-se e afirma que os seus comentários são feitos apenas com base naquilo que as cartas lhe dizem. Maya diz mesmo que, até hoje, nunca recebeu queixas de quem a consultou. "O meu programa já está no ar há algum tempo e temos recebido um retorno muito positivo de quem nos liga. Nunca me aconteceu reclamarem de alguma coisa que eu tenha dito", assegura. Sobre as palavras de José Manuel Silva, Maya não hesita em deixar um recado: "Os processos em tribunal de negligência médica têm vindo a aumentar. Talvez o bastonário se queira pronunciar sobre isso", dispara.

Apesar de reconhecer que a saúde é uma das áreas mais complexas, a anfitriã de Cartas da Maya assevera que a sua postura é sempre pautada pelo "cuidado e rigor". E afirma que tem uma "grande eficácia nessa área" e que foi graças aos seus conselhos que uma figura pública, cujo nome não quis revelar, evitou uma tragédia. "Aconselhei essa pessoa a ir ao médico porque tinha um problema cardíaco. Felizmente ouviu-me, foi ao hospital e verificou que eu tinha razão", refere.

Ainda que esteja totalmente segura do rigor do seu trabalho, a taróloga da estação de Carnaxide reconhece que podem existir alguns erros pontuais. Contudo, Maya não perde a oportunidade para lançar farpas à classe médica. "Não acredito que falhe, mas se falhar, não falho mais do que alguns médicos", finaliza.