Este episódio não me é estranho...

 

Novelas, séries infantis e para adultos... são muitos os programas que se repetem na TV. Custos mais baixos e público garantido fazem das reexibições episódios de sucesso.

Todos os dias e sempre que se carrega no botão, é difícil não tropeçar num programa repetido na televisão nacional. Muitas vezes, o mesmo formato regressa por uma terceira ou quarta vez. Não é estranho ver o público querer matar saudades, surpreendente é quando as audiências nos vêm dizer que ainda há muita gente que revela querer ver e rever as histórias, as personagens, os ambientes, tantas vezes. Serão sinais do mercado em recessão? 

Júlia Pinheiro, diretora de conteúdos da SIC, explica que "as repetições são uma maneira de, no fundo, manter o equilíbrio nos custos de uma grelha, é uma forma de poupança".

Para repetir programas é preciso ciência, conjungando o formato, sem custos de reexibição, que mais atenções desperta, com a preocupação de o reemitir no horário certo. Se tudo correr bem, poupa-se por um lado e encaixa-se dinheiro da publicidade pelo outro. Tudo de uma cajada só! Mas os operadores nada dizem sobre quanto dinheiro realizam com o modelo "baralhar e dar de novo"

Por cá, os contratos celebrados entre os canais e as produtoras estão - como tudo o que envolve negócio - guardado a sete chaves. Em média, a prática recorrente em Portugal "é comprar o direito de exibição uma primeira vez, que já traz a repetição por mais três vezes".

O não pagamento das reexibições é uma realidade que, claro, desagrada a produtores e trabalhadores do setor. Jorge Marecos, administrador da SP Televisão que foi responsável pela produção de dez anos de Malucos do Riso (SIC) e pela reexibição desses conteúdos ao longo de quase mais cinco, escapa-se dizendo que "tudo depende dos acordos" com as televisões. "Nos Malucos, as repetições valeram zero", confirma e recorda.

 

Sabe, também, que a forma como o mercado trabalha em Portugal desprotege quem cria e faz. "Como fazemos contratos por encomenda, os direitos são de quem pede: os canais. Não recebemos nada pelas repetições, em princípio, elas não são pagas. A possibilidade de o mercado mudar é complexa, a não ser que o formato venha já com sucesso internacional", adianta.

Se este programa de humor foi usado, durante anos, para salvar o prime-time da SIC em queda, assegurando pelo menos uma média de 900 mil espectadores por emissão, Júlia Pinheiro revela agora que esse tempo conjuga-se no pretérito perfeito. "Os Malucos? Esse tempo já acabou". Sobre o modelo de negócio ao nível das repetições, nem uma palavra. "Cada um faz a gestão como acha melhor, é um instrumento como outros para tornarmos as grelhas mais competitivas." Porém, é do conhecimento geral que quando as novelas brasileiras da TV Globo eram repetidas, o custo por episódio era metade do preço cobrado numa primeira emissão.

 

O público infantil é, à partida, o que mais aprecia este género de reexibições. Aliás, no passado sábado de manhã, 17 março, a TVI conseguiu sentar, em frente ao televisor, mais de meio milhão de pessoas, dispostas a ver o Inspetor Max. O que as fazia estar ali não era uma estreia, a curiosidade inerente a novas aventuras, nem ver o regresso de um novo ator. Não, nada disso! Há muitas razões, mas os especialistas em televisão acreditam que o que reúne aqueles 500 mil indivíduos - entre mais novos e mais velhos - é apenas a vontade de recordar o que já tinham visto antes.

Júlia Pinheiro, atual diretora de Conteúdos da SIC, era responsável na TVI à data da produção desta série infanto-juvenil. Agora, quando olha para a série e comenta estes resultados, não duvida de que "o Inspetor Max vai eternizar-se". Acredita que é a "recordação que faz as pessoas rever os projetos, a aceitação de que é confortável voltar a ver, passados alguns anos, os heróis." Essa é uma das razões que leva esta responsável da SIC a manter, nos horários matutinos aos sábados, as produções infantis com assinatura nacional. É já amanhã, 24 de março, que se estreia a segunda reposição da novela Floribella, precisamente uma semana depois, 17, de a escola de Rebelde Way ter fechado as portas, contando com uma média de 273 mil espectadores. "No caso da Floribella, há tolerância à repetição porque está entre os produtos mais marcantes", diz Júlia.

Júlia Pinheiro acrescenta que este tipo de resultados também advêm do toque de magia que a produção com chancela nacional tem sobre o auditório.

 

Histórias à hora da sesta...

Depois dos jornais televisivos da tarde, segue-se o horário das novelas que, nas estações generalistas privadas, são repetições de sucessos portugueses: Perfeito Coração, na SIC, e Ilha dos Amores, na TVI. Contas feitas, tem havido mais de meio milhão de pessoas, entre as 14.00 e as 15.30, que não se importa de estar a ver produções que não são fresquinhas, acabadinhas de fazer. "Há novelas em que há boas razões para repor e se foram colocados depois de um hiato de tempo, podem correr bem", diz. Mas ressalva: "Eventualmente em horários mais periféricos". 

Fonte: Noticias TV