O seu núcleo tinha uma carga emocional muito forte. Confrontos com as netas e um impostor que se fazia passar por seu filho. Como é que lidou com isso?
Consigo separar as coisas porque sou
atriz há 53 anos, portanto tenho essa obrigação. Em teatro é mais perigoso
porque encarnamos a mesma pessoa todas as noites. Em televisão vivemos as
personagens em instantes e em bocadinhos. Tanto faço cenas do episódio 20, como
a seguir faço do episódio 40. A dificuldade aí é perceber a trajetória da
personagem, perceber a sua identidade, como dizer as frases e que condimento
colocar... o sentimento do instante. E é por isso que temos uma folha com a
trajetória da personagem, mas são pequenas análises de cena a cena que nos dão
algumas dicas. No início leio os episódios de fio a pavio, depois começo a ler
apenas as minhas cenas.
Qual é o truque para não se deixar
abalar pelo percurso das suas personagens?
Quando as personagens são mais
ferozes para a minha sensibilidade, tenho um ritual: chego ao camarim e levo
muito tempo a despir a roupa, a tirar os acessórios... e como tenho um duche no
meu camarim vou para debaixo dele e limpo a minha alma! Depois olho ao espelho,
vejo a Irene e digo: 'a ver se não te magoas muito'. Aprendi a pôr o coração de
parte. A entregar o meu coração à personagem no momento exato, mas não o da
Irene.
Qual tem sido o feedback deste
seu trabalho?
Começou logo no estúdio, porque vejo
logo pelas caras das pessoas se estão agradadas ou não em relação ao trabalho
que estou a fazer e esse é o meu público imediato. Mas o feedback que
vem do exterior é o mais importante porque é para essas que eu trabalho. E tem
sido muito bom, é muito agradável ouvir as coisas bonitas que as pessoas me
dizem. Eu, ao ver-me, ponho sempre imensos defeitos, porque acho que pode ser
sempre melhor. Não está mal, mas tenho a mania das perfeições.
Esteve três anos parada antes desta
novela. Porque ficou afastada da TV tanto tempo?
Aconteceu. Não tenho contrato de
exclusividade com nenhuma estação... Nunca me propuseram, mas eu prefiro mesmo
ser independente.
Consegue identificar algum motivo
para nunca ter assinado um contrato?
Sou uma pessoa muito independente. A
partir de um determinado momento da minha vida tornei-me assim em todos os
aspetos. Mas se alguém me oferecesse...não sei, tinha de ser pensado. Se
monetariamente compensasse, talvez pensasse nisso...
Isso nunca aconteceu?
Não... talvez porque mostrei sempre
esta minha faceta. Em todo o caso, não tenho agente nenhum. Não tenho nem
quero... mal ou bem vou fazendo os meus negócios. Mal, porque não sei negociar.
Mas estou feliz comigo própria e sinto-me bem assim...
Entretanto, as gravações já terminaram. Foi um
trabalho cansativo?
Dormia duas horas por noite porque também estava a
fazer uma peça. Chegava a casa perto da uma da manhã, mas o sono não vinha
logo. Aproveitava sempre antes de adormecer para dar uma olhada nos textos
porque ajuda a fixar. E muitas vezes vinham-me buscar às 7 e eu, às 5, já
estava acordadérrima porque para já não posso acordar e andar à pressa. Tenho
de ter o meu tempo para tratar de mim e dos meus meninos, que são os meus cães,
para dar-lhes carinho e festinhas. As 5 e meia, punha-me a olhar outra vez para
os textos para voltar a fixá-los porque decorar 20 e tal cenas por dia não
consigo. Porque somos humanos, não somos máquinas, embora às vezes as pessoas
pensem que somos [risos]. Mas eu tenho a mania que tenho de ser perfeita,
depois enervo-me e começo a bloquear.
Fonte: Noticias TV
A Irene Cruz é uma grande actriz!
ResponderEliminarA personagem «Gilda Mayer», que ela desempenha na perfeição, consegue vários cambiantes, como só os bons artistas conseguem!
Tanto mostra uma inflexibilidade, que chega a tocar a frieza, como quando despede o «Agostinho»...como se mostra terna e sensível com as suas netas, a pequenina «Matilde» e a «Maria».