Encerra as suas entrevistas com uma pergunta assinatura: ‘O que dizem os seus olhos?’ Vamos inverter a tradição e começar por aí. Dizem sempre que espero que o melhor ainda esteja para vir. Seria um pouco estranho que aos 31 anos achasse que já tinha vivido as melhores coisas da vida. Procuro viver o presente sem ficar agarrado às coisas e preocupar-me com o programa da próxima semana.
As suas entrevistas são muitas vezes descritas como lamechas e são raras aquelas em que não há lágrimas. Refuto completamente essa ideia. Pretendo que as pessoas se revelem o mais possível e não é fácil perceber uma pessoa sem passar pelos momentos fracturantes da sua vida. Cresce-se mais no sofrimento, como o António Feio, porque foi o entrevistado que vivia a situação mais fracturante e ainda assim aparentava uma calma perturbadora. Mas, nas entrevistas que mais marcaram, as pessoas não choraram: António Feio, Artur Agostinho, Manuela Moura Guedes, Nicolau Breyner, Ruy de Carvalho, Eunice Muñoz... A maioria dos convidados não chorou. Só que o momento em que alguém chora fica mais na retina e as pessoas tendem a tomar a parte pelo todo. O meu propósito não é que chorem.
Sente que há uma classe dita mais intelectual que tem inúmeras reservas em relação a si?
Admito que sim, que possa ter causado asco nos outros. Não porque tenha feito algo nesse sentido, mas porque sou como sou. Sempre fui independente na forma como fiz o meu caminho, que é diferente dos outros. E muitas vezes – há que admiti-lo – consegui coisas que os outros não conseguiram, sem qualquer falsa u modéstia. Mas também admito que seja só porque não gostam do meu tom de voz, da minha imagem, acham que sou lamechas. Querer agradar a toda a gente fazendo televisão é impossível. Desde os 14 ou 15 anos que faço um arquivo sobre todas as figuras televisivas e também sobre tudo o que saiu sobre mim e, muitas vezes, lendo coisas que disse, posso considerar que não simpatizaria comigo. Sou fechado, tenho um lado arrogante, tenho mau feitio…
Uma pessoa de 31 anos, que já chegou onde o Daniel chegou, debate-se necessariamente com invejas? Aceito que as pessoas não gostem daquilo que faço nem de mim, como acho que pode haver factores mais perniciosos. Mas, com erros no percurso, nunca senti que o meu trabalho estivesse mal feito. Não trabalho para me dizerem que sou formidável. Trabalho para ter programas com público. O que se diz sobre nós só tem a importância que queremos que tenha. No Europeu, durante as conferências de imprensa, havia jornalistas que diziam ‘lá está ele’, só porque os jogadores me cumprimentavam. Como se não estivesse ali a trabalhar.
Sempre esteve muito associado aos futebolistas, imagem reforçada pelo programa Incríveis. Estamos a falar de amizades ou conhecimentos profissionais? Nalguns casos há amizades. Sou padrinho de casamento do Nuno Gomes, sou amigo de infância do Jorge Andrade. O que faz a diferença e o que marca é a qualidade dos programas. Ninguém pense que o Cristiano Ronaldo, mesmo que fosse muito meu amigo, se exporia como se expôs, se o resultado não fosse de acordo com a sua imagem pública. Claro que ser mais próximo facilita.
Há a ideia de que é um bajulador de jogadores de futebol… Aí sim, julgo que as críticas são enviesadas e toldadas por alguma razão que não a objectiva. Fiz quatro entrevistas grandes ao Cristiano em dez anos. Só isso.
Fonte: SOL
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