ATRIZ ENTRE O TEATRO E A NOVELA DA SIC E ELOGIA OS NOVOS ATORES

quinta-feira, 27 de junho de 2013


Maria João Luís: "Há uma geração maravilhosa de atores novos"

É atriz de telenovelas, de cinema e teatro. Ainda tem o seu projeto em Ponte de Sor? "Sim, tenho. É uma coisa de que muito me orgulho. É o Teatro da Terra. Um projeto que foi apoiado pela Câmara Municipal de Ponte de Sor e que, finalmente, este ano teve o apoio do Ministério da Cultura. Desenvolvemos um trabalho de interação com a comunidade de Ponte de Sor que tem funcionado muito bem."

As pessoas vão ao teatro?
"As pessoas vão ao teatro e temos tido resultados extraordinários. Como peças de 10 dias em cena, com 400 pessoas todos os dias. É fantástico. Dez dias e quatro mil pessoas é muito bom. O ‘Chão de Água’, peça que recebeu agora o Prémio da SPA, fizemos dois dias e tivemos 1400 pessoas."

O público mudou?
"Há muito público a ver teatro. E há um desgaste de programas das televisões que, de certa forma, são para encher e que estão a deixar as pessoas ir à procura de outro tipo de oferta. O que faz todo o sentido e já seria previsível. As pessoas cansam-se. E procuram alternativas. Neste momento, há muita gente nova a ir ao teatro. Lembro-me que quando comecei, no Teatro Independente, tínhamos salas de 10 pessoas. Era duro. E hoje em dia é raríssimos isso acontecer."

Tem tempo para conciliar gravações na telenovela, com os ensaios no teatro?
"Tenho um encenador que é muito querido comigo. Que me permite ensaiar nas folgas, quando não tenho gravações. Tudo isto é gerido de uma forma delicada. Mas como pode calcular a minha vida é milimétrica. Tenho as coisas contadas ao segundo. Saio daqui às 17 horas, tenho uma viagem de duas horas até Ponte de Sor, como qualquer coisa, e ainda vou a casa dar um beijo aos miúdos e à noite estou no teatro. É assim que vivo e que, infelizmente, a maioria dos artistas em Portugal, que têm de gerir a sua vida para sobreviver com alguma dignidade, vivem."

Como olha para os cortes que estão a ser feitos à cultura, nomeadamente às companhias de teatro? "Fico abismada. Como é que é possível? Arrisco-me a ser muito bruta, mas é uma grande falta de respeito pelos artistas e pelo povo. Neste momento, fico estupefacta quando me dizem que vão fazer cortes nas reformas de 300 euros. Como é que as pessoas vão viver? E, depois, como se pode cortar dinheiro a uma companhia como o Teatro Aberto? Como à Cornucópia? Como é possível? São companhias que passaram tempos difíceis, conseguiram sobreviver, e quando finalmente estavam a conseguir ter alguma dignidade, vão-lhes cortar."

Refere-se à angústia dos atores? "Repare, é uma geração de pessoas que já fizeram muito por este País. Os políticos foram indo e eles continuaram lá. Esta gente resistiu. E é agora – como paga de uma vida inteira a manter alguma cultura digna deste País – que vão tirar o dinheiro que lhes davam e que já permitia que trabalhassem e com o qual já estavam organizados para poderem funcionar. Isto é de uma violência... Nem tenho palavras para o descrever. Não é terceiro mundista. É uma coisa demente. É louca. Não sei se leu o que disse Ruy de Carvalho."

Sim, daí também a questão... "Como é possível termos chegado ao ponto de ter um ator como o Ruy de Carvalho, que se vê na obrigação de fazer um texto daqueles [ator expressou indignação nas redes sociais pelo facto de as finanças já não o considerarem ator mas um prestador de serviços]."

Alguns atores defendem um sindicato. E a Maria? "Sim, seria útil. Temos a GDA [Gestão dos Direitos dos Artistas], que defende os direitos dos artistas e penso que funciona muitíssimo bem. Mas sim, penso que devia haver um sindicato dos atores."

Como vê as críticas sobre jovens que aparecem a representar sem formação? "Sobre isso também não vou comentar. Arrisco também a parecer estranha. Não vivo na perspetiva do título, ou do nome, de ser uma atriz de primeira, e de haver um outro que não tem formação e de entrar na minha praia. Sou muito mais livre do que isso. A minha praia está aberta a todos e depois cada um há de revelar aquilo que é. Há uma triagem natural. O que vamos dizer? Não são atores? Mas se estão a representar, são o quê? É preciso encontrar um nome? Não entro nessa guerra, nem nessa procura, nem vou perder o meu tempo com isso."

E os novos atores, como olham para si? Como uma referência? Pedem ajuda? "Sim, é comum isso acontecer. Felizmente. Embora sinta que há agora uma reação que eu não conhecia e que me deixa muito incomodada, porque penso: será que estão zangados comigo? Será que disse algo que não devia? Fico ali numa grande insegurança e depois percebo que é só uma coisa que eles não estão a conseguir ultrapassar."

É respeito? "É respeito. Acho que é. Penso eu. Mas é uma coisa muito tonta."

E os mais atrevidos, abordam-na? "As pessoas, depois de uma semana a trabalharem comigo, percebem que não precisam de ter esse tipo de cuidados. Mas sim, falamos naturalmente e ajudamo-nos todos uns aos outros, como é bonito. E a trabalhar em televisão é realmente preciso passar coisas aos mais novos. Porque é um trabalho de equipa e que tem de funcionar como tal. São muitas horas, tem de haver um respeito pelo trabalho de cada um. Cabe-nos transmitir isso."

Há uma nova e talentosa geração de atores? "Há uma geração maravilhosa de atores novos. Isto pode ser difícil de entender, mas é quase como se fossemos uma espécie, os atores, e que evoluem gene-ticamente. Embora não sejamos nada parecidos uns com os outros. A ideia que tenho é que há uma evolução. Os atores existem desde sempre e por uma razão muito simples: o ser humano precisa de se ver. Nada lhe consegue mostrar aquilo exatamente que ele é, a não ser o ator. Portanto, o ator é intrínseco. O papel do ator na sociedade é impossível de apagar. Está dentro de cada um de nós."

Perfil...
Maria João Luís é natural de Vila Franca de Xira, nasceu em 1964, e desde cedo mostrou talento para as artes. Foi a leitura de poemas que levou à representação, depois de ter passado pela António Arroio. Iniciou-se no teatro A Barraca, passou pela Malaposta, Comuna e Cornucópia. Faz cinema. Recebeu o Prémio de Melhor Atriz no Festival de Curtas de Badajoz.

Fonte: Correio da Manhã

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