Todos querem estar presentes no "Cabo". A TVI quer mais 6 ou 7 canais, a SIC promete 2 no próximo ano. Mas há público para tanto canal? E o bolo publicitário, é suficiente para dividir por tantas bocas gulosas?
Não há mês em que não surja um novo canal
na televisão paga... O último a chegar foi o da televisão de Cabo Verde e
prometido está, desde Dezembro do ano passado, a chegada a de um novo canal do
universo SIC, agora dedicado a famosos. Entretanto, dando azo a uma prática
regular, a TVI tem estado a emitir o do "Big
Brother VIP". Tudo isto para um universo de
mais de 7 milhões e 500 mil pessoas que têm televisão por cabo em Portugal,
ou seja, 77,5% da população nacional segundo os dados da GfK.
Mas até onde é que o cabo pode esticar?
Onde está a linha que separa a oferta da procura, da rentabilidade e do
prejuízo, da audiência à falta dela? Pedro Boucherie Mendes, Diretor dos Canais Temáticos da SIC, acredita mesmo que o futuro já não está em saber se o "Cabo" vai ou não crescer... "Julgo que a questão não deve ser colocada nesses
termos, já não estamos no duopólio do free-to-air (televisão
em sinal aberto) e cabo, mas num mercado com vários tipos de acesso. Com o DVR,
otimeshift (gravações
de programa), os 7 dias disponíveis, o acesso via computador ou tablet e a
pirataria, a questão será de quem tem os melhores conteúdos e/ou as melhores
marcas a distribuí-los."
Para Paulo Bastos, jornalista e editor da
TVI, o caminho depende "do que se queira fazer". Contudo, por se
tratar de um mercado pequeno, "cada vez é mais difícil fazer séries
como House ou CSI". Mas se em causa
estiver a intenção de "fazer canais mas só houver dinheiro para ter gente
sentada à volta de uma mesa a falar, mesmo assim só será possível se houver
pessoas a ver...." Para este jornalista, "o risco é sermos invadidos
por programações feitas em países com mais de dez milhões de pessoas".
Audiências, custos e ganhos...
Com os Canais generalistas a perder
auditório para o "Cabo", não estarão os próprios canais a levar os seus públicos
à dispersão? "O facto de as generalistas estarem presentes no cabo
representa a sobrevivência das generalistas. Estamos a fazer mais canais com o
mesmo dinheiro, com as mesmas pessoas e com os mesmos meios. Começámos dois ou
três canais este ano e não houve contratações, são as mesmas máquinas, as
mesmas pessoas", explica Paulo Bastos. Pedro Boucherie Mendes acrescenta:
"Do ponto de vista criativo, permite outras possibilidades e obrigações...
testar, promover e produzir novas e diversas linguagens televisivas. Do ponto
de vista empresarial, há a multiplicação de receita e diversificação das
mesmas".
Numa altura em que o mercado do
investimento publicitário continua em queda livre, nada melhor do que ter
várias plataformas para levar as marcas a expor os seus produtos... "Ter
vários canais permite ter estratégias integradas de publicidade, não estamos a
perder dinheiro para outro grupo de media. Sabemos que perdemos num mas temos
os outros", clarifica Paulo Bastos.
Se os canais recebem por pontos de
audiência, conseguem fazer-se pagar com conteúdos exclusivos e têm vantagens
nos planos de publicidade, a televisão por subscrição ganha uma atração que em
Portugal a televisão digital terrestre (TDT) não teve por ser necessário, entre
outras questões, pagar o transporte de sinal.
Os canais só precisam de convencer os
operadores de que o que querem oferecer é rentável. Mas convencer
distribuidores como a Portugal Telecom (PT), que detém a Meo, ou a Zon a
arrancar com conteúdos não é - explica Boucherie Mendes - "nem deve ser
fácil. Os distribuidores são exigentes e assim é
que deve ser". Paulo Bastos acredita que o caminho levará os
"distribuidores a serem produtores".
Até ao fecho de edição não foi
possível obter declarações por parte da Zon, mas a PT reage: "Verificamos
que o caminho da personalização da televisão está a ser traçado e que hoje os
telespectadores têm ao seu dispor um conjunto de ferramentas que lhes permitem
criar não só o seu próprio canal (Meo Kanal) como definir o alinhamento dos
canais lineares, interagir com os conteúdos, ver os seus programas favoritos
quando quiser (com as gravações automáticas) ou planear as suas gravações
dentro e fora de casa."
Na verdade, enquanto o número de canais
cresce também os espectadores que vão passar a querer ver e a comprar apenas os
programas que querem vão aumentar. Boucherie Mendes diz que há margem para
ambos crescerem. Paulo Bastos, por outro lado e em paralelo com a evolução,
sustenta que "as generalistas terão sempre massa crítica e economia de
escala que permite outro tipo de produção".
Apostas da SIC e da TVI...
Mas apesar da oferta em sinal aberto, as
estações privadas continuam a querer agarrar o barco da televisão paga porque,
se as audiências forem altas, mais cêntimos recebem por cada espectador.
Luís Marques, administrador editorial da
Impresa, grupo que detém a SIC, já tinha anunciado, no final do ano passado, as
negociações em torno de dois novos canais no cabo, a juntar à oferta da SIC
Notícias, SIC Mulher, SIC Radical e SIC Kids. Se o projeto "com a Zon para
o canal da Caras poderá
chegar até ao final deste ano", já o
segundo canal avançado parece agora estar parado... "Não existe, não está em
cima de mesa nenhuma negociação", declara Marques, rejeitando recuos...
"Não houve nem deixou de haver recuo. Há conversas, mas neste momento
estamos concentrados em fazer aquele canal, o que exige algum esforço."
Da parte da TVI, que lançou o TVI Ficção
com a Meo no último trimestre de 2012, e o +TVI com a Zon em Janeiro, e agora o
exclusivo "Big Brother
VIP", a definição de novos conteúdos permanece no segredo dos
deuses. Miguel Paes do Amaral, presidente do Conselho de Administração da Media
Capital, declarou, em Janeiro querer aumentar a oferta... "Temos três
canais, gostaríamos de ter seis ou sete e temos capacidade para isso. Mas três
é melhor que dois e estamos muito satisfeitos por termos aumentado a nossa
presença no cabo em 50%. Este é um dos caminhos, diversificar as nossas
ofertas, os nossos públicos e ter mais canais."
Fonte: Noticias TV
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