A situação que viveu no Iraque marcou a sua vida e a sua carreira. Como é que vê esse episódio hoje?
Vai marcar-me para sempre. Marcou-me fisicamente, uma vez que tenho um problema na perna, mas não mais do que isso. Profissionalmente, condicionou o que posso fazer em relação a estar mais tempo fora ou a ir para zonas de conflito, porque não há nenhuma companhia de seguros que me segure. Não consigo correr, e ninguém vai fazer um seguro a uma jornalista coxa numa zona de guerra.
Se pudesse, gostava de voltar ao jornalismo de guerra?
Sim, e já tentei. Foi assim que descobri que não podia.
Quanto tempo ficou parada?
Cerca de quatro meses. Foi horrível, estive um mês internada. Foi a parte pior porque estava confinada a uma cama e quando voltei para casa tinha a mobilidade muito limitada. A partir do momento em que comecei a caminhar, vinha à SIC dizer olá. Quando já não aguentava estar de baixa, fui pedir ao médico que me a retirasse, porque queria trabalhar.
Notou alguma diferença?
Em termos de trabalho estava tudo na mesma, eu é que não. Percebi que tinha limitações.
Hoje é editora executiva. Como foi abraçar esta área?
Na altura, a direcção propôs-mo, e achei que fazia sentido passar para o lado da coordenação. Fui perdendo o lado da reportagem, mas tento equilibrar, fazendo pelo menos duas ou três peças maiores ao ano.
A reportagem é do que sente mais falta?
É. De estar no terreno, sentir o pulso às coisas. Na coordenação precisamos de estar muito atentos à realidade, perceber o que preocupa as pessoas. Mas sinto saudades do diálogo e de cultivar algumas fontes.
A tragédia na Madeira foi o tema que mais a marcou este ano, ou houve outros?
Pela experiência profissional, destaco a Madeira porque estive lá. E foi uma tragédia muito grande, nunca pensei que atingisse aquela dimensão. Mas, obviamente, também o tema da crise, porque nos marca a todos. Julgo que 2011 ainda vai ser pior.
Como vê a chegada da Manuela Moura Guedes (MMG)?
Ainda não sei em concreto o que é que ela vai fazer. O que nos explicaram é que ela vai ter um programa autónomo. Por isso, vou esperar para ver. Não a conheço pessoalmente, não tenho opinião sobre ela.
Mas é uma mais-valia?
Não sei em que moldes é que ela vai trabalhar para a SIC. Não quero falar sobre a MMG.
Além dos noticiários, gostava de conduzir um formato diferente de informação?
Não me importaria. Mas tenho um trabalho definido para fazer, a edição executiva, e isso deixa-me com pouco tempo para fazer outras coisas.
A Conceição Lino, uma das caras da informação, entregou a carteira profissional e passou para o entretenimento. Via-se a fazer o mesmo?
Não, mas acho que a própria Conceição também não pensava nisso. Fizeram uma proposta adequada às suas características e ela aceitou o desafio. Não me via a fazer um programa daqueles porque não tenho tais características nem vocação.
Estando na SIC desde o início, já sentiu vontade de experimentar a RTP ou a TVI?
Não vejo porquê. A SIC é um bom sítio para se trabalhar.
Como vê a informação dos outros canais?
Não gosto de falar sobre o trabalho dos outros. Somos todos jornalistas e fazemos todos o nosso trabalho.
E como é ter um jornalista como patrão?
É o melhor do mundo. É, de facto, um privilégio, porque o Balsemão é um gestor, mas não só. Compreende as nossas preocupações e percebe a necessidade de a administração não se imiscuir no trabalho da redacção. Temos uma reunião mensal com a administração, na qual começa por pedir as nossas opiniões, e em que conversamos sobre os temas da actualidade. Se o presidente do conselho de administração fosse um gestor de raiz, não teríamos essa oportunidade.
Alguma vez se sentiu pressionada?
Nunca. O único condicionamento que alguma vez senti foi económico. Muitas vezes não podemos fazer melhor porque não temos meios. Era maravilhoso estar em todos os sítios do mundo onde estão a acontecer coisas, em vez de termos o trabalho feito por agências.
Esse é o maior entrave?
Na SIC e em todas as outras redacções, porque o factor económico é incontornável, numa fábrica de sapatos ou numa televisão. É a realidade com que temos que viver, até porque vamos entrar num ano em que vamos apertar ainda mais o cinto.
Uma entrevista do Correio da Manhã
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