- Voltou à televisão com a novela ‘Rosa Fogo’, da SIC. Como estão a correr as gravações?
- Estão a correr muito bem e eu estou a gostar imenso. É muito intenso. A minha personagem, Sofia Fragoso, está grávida, vai descobrir que tem cancro na mama e vai fazer tudo para salvar o filho. É uma mulher fantástica, corajosa. Se eu estivesse naquela situação reagia exactamente ao contrário, ela é tão forte...
- Como é que se preparou para interpretar uma mulher que sofre de cancro?
- Primeiro falei com vários médicos, que me tiraram imensas dúvidas. Foi muito bonito perceber que o milagre pode acontecer em termos de saúde. Depois falei com doentes que estão a fazer quimioterapia, com pessoas que têm familiares doentes e com familiares de doentes que já faleceram. Percebi que a esperança é o mote principal. O apoio também é importante, porque é uma fase muito dolorosa.
- Estava preparada para a realidade que encontrou?
- Não, não estava. Só vivi de perto um caso: um familiar do meu marido que faleceu com cancro, e estive perto dele. Foi muito difícil, porque era uma pessoa muito positiva, batalhadora. E há um momento em que toda a gente acredita que a pessoa se vai salvar, mas a verdade é que há pessoas que se salvam e outras não. Não tinha era a noção da quantidade de pessoas que sofrem de cancro, e à minha volta. As histórias é que têm vindo ter comigo.
- Ter contacto com esta realidade fê-la dar mais valor à sua vida?
- Sim, fez-me pensar que a vida é muito curta. Esta personagem tem-me ajudado a reflectir sobre a beleza de tudo, sinto que tenho de aproveitar muito o agora e agradecer por mais um dia. Muitas vezes esquecemo-nos disso. Fazemos mais facilmente uma lista de supermercado do que das coisas que são importantes para nós, que nos fazem felizes.
- Concretamente, mudou algum dos seus hábitos?
- Mudei. Agora faço ioga, tenho tentado acordar e não ir logo a correr para qualquer lado. Levanto-me e, calmamente, olho pela janela, para uma flor... Há qualquer coisa dentro de mim mais contemplativa. Isso dá-me calma, serenidade. Além disso, tenho visto muitos filmes sobre cancro. Quando dizem a uma pessoa que só tem três meses de vida, ela só quer aproveitar ao máximo. Eu também penso: se tivesse uma semana de vida, o que fazia? Não precisamos de ter uma sentença de morte para fazer o que mais gostamos.
- Esta personagem tem uma carga emotiva muito intensa. É fácil descolar-se da personagem quando acaba de gravar?
- Não é fácil. Sempre disse que ser actor é uma profissão de alto risco. Se não nos entregarmos, a coisa não é verdadeira, as pessoas não acreditam. Se a minha personagem está a sofrer tanto, eu também tenho que sofrer por ela. Tenho que encontrar substituições de dor. Compreendo os meus colegas que usam produtos para chorar mas eu não consigo, a emoção tem de ser verdadeira.
- Como é que encontra a emoção para conseguir dar realidade às cenas?
- Tenho um método. Trabalho todos os dias em casa, faço exercícios de relaxamento, porque a tensão é a pior inimiga das lágrimas. Depois, claro, arranjo imagens que sustentem aquela emoção que estou a interpretar. Vou buscar imagens que têm a ver com o meu sofrimento pessoal, como a morte do meu pai. No caso desta novela, por exemplo, não sei o que é ter cancro, no entanto, sei o que é sentir dor, chorar, amar, perder alguém.
- É mais difícil fazer estas cenas emotivas e pesadas?
- Depende, é tão difícil fazer cenas dramáticas como cómicas, é preciso ser-se muito inteligente. O mais importante na emoção é o pensamento, estranhamente.
- Esta personagem já a levou a pensar: "E se isto me acontecesse a mim?"
- Já, já, mas tento não ir muito por aí. Não posso ter medo, prefiro divertir-me. Gosto de ver as coisas como uma investigadora.
- O que é que tem em comum com a sua personagem?
- Sou muito romântica e temos as duas maridos maravilhosos...
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