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“Até Amanhã, Camaradas” foi uma série da SIC em 2005 adaptada da obra homónima de Manuel Tiago/Álvaro Cunhal. A história retratava as lutas operárias de 1944 e o recrutamento de militantes clandestinos para o Partido Comunista. Contou com 6 episódios, com cerca de 50 minutos de duração.
Esta série marcou um regresso da SIC à produção doméstica de ficção. Nos dois dias em que emitiu o trabalho realizada por Joaquim Leitão (mas que é sobretudo um projeto do produtor Tino Navarro), a SIC quebrou a rotina da caça ao rating e transferiu-se para o mundo onde, por umas horas, se vive o sonho utópico da boa televisão. A utopia televisiva foi servida em dose algo, digamos, soviética. É interessante a SIC ter adotado formato da minissérie de dois dias, habitual na produção europeia, mas foram muitas horas por dia, a desafiar a resistência do espectador.
Quem aguentou, porém, deu o tempo por bem empregue. Se “Até Amanhã, Camaradas” queria homenagear em televisão a resistência dos comunistas à ditadura, conseguiu. Construiu uma memória imaginada do Portugal dos anos 40. A escolha dos cenários, em particular os industriais, foi notável. Os exteriores tinham uma luz e uma atmosfera idênticas, reforçando esse transporte para outra época, sublinhado por comboios, automóveis e casas rústicas onde se cozinhava à lareira.
O casting para o elenco de protagonistas foi muito bom. Gonçalo Waddington (um Cunhal convincente) e Leonor Seixas foram muito bem escolhidos, bem como a esmagadora maioria dos atores secundários. Houve um momento formidável, a greve geral, que Joaquim Leitão filmou muito bem, ao nível dos planos escolhidos, da montagem, da direção das multidões que desfilavam em protesto, no registo épico. Foi muito bonita a entrada dos trabalhadores na fábrica; o detalhe do fumo das chaminés que se imobilizava quando a greve foi declarada cortava com o naturalismo de uma série baseada numa obra literária inscrita no realismo socialista. O retrato da violência policial foi corajoso e forte.
Leitão fez da obra um filme de ação. Mas os limites de “Até Amanhã, Camaradas” decorrem do próprio programa de partida. A obra literária foi apenas um manifesto ideológico, linear na estrutura, propondo um modelo ideal do homem comunista. Não existe conflito dramático real, nem os personagens são realistas, mas sim o produto linear de uma ideologia, que expõe situações como o papel das mulheres no PCP, mas sem problematizar. Essa foi a ilusão que este 'realismo' kitsch não quebrou. Sobra, e não é pouco, a utopia da boa TV que a série serve e muito bem.
In Diário de Noticias 2005
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