terça-feira, 16 de outubro de 2012
"A SIC TEM FEITO UM TRABALHO DE GESTÃO NOTÁVEL"
Pedro Norton falou à revista Noticias TV sobre a crise nos media...
Vamos aos números: a Impresa regressou no segundo trimestre do ano aos resultados líquidos positivos, com 2,2 milhões de euros. Mesmo sabendo que as receitas consolidadas de 63,6 milhões desceram 7,5% em relação ao período homólogo do ano passado. Que tempos são estes em que vivemos? São tempos de grande incerteza, embora se cruzem aqui dois fatores de natureza diferente que importa referir. Por um lado, há uma mudança estrutural na área dos media. E isso tanto acontece na televisão como na imprensa. E depois há um fator conjuntural, que é esta crise do país, que vai aliviar, embora ninguém saiba se é em 2013, em 2014 ou 2015. Mas o negócio dos media está a transformar-se simultaneamente. E nesse caso é irreversível.
Sim, mas a crise dos media é independente da crise das dívidas soberanas. Já ouvimos falar da crise no mercado publicitário desde 2005... É verdade, mas ela agudizou-se em 2008, com a crise financeira. A verdade é que o mercado publicitário reage sempre de uma forma agressiva e elástica, para utilizar um jargão económico, às variações do PIB e do consumo. O que estamos a assistir é a um reflexo, se bem que mais dramático, do que está a acontecer à economia em geral. Quando a economia bater no fundo...
Não bateu ainda? É difícil dizer se já bateu no fundo porque as perspetivas para o próximo ano são de uma queda adicional, portanto, é razoável pensar que ainda não bateu. Ainda ninguém viu a luz ao fundo do túnel. Mas é expectável pensar que uma recuperação da confiança da economia e, sobretudo, do consumo interno se traduza num regresso do crescimento dos mercados publicitários.
O mais certo, segundo todos os analistas, é que o mercado publicitário, que ainda há poucos anos valia 800 milhões de euros e que hoje está abaixo dos 500 milhões, não volte ao ponto onde estava antes da crise. E isso é uma preocupação grande. Mas também todas as empresas já fizeram um ajustamento tão grande que não precisam de que o mercado volte ao nível de 2000 para que sejam projetos viáveis e sólidos.
As crises têm essa vantagem? De nos fazerem viver com aquilo de que realmente precisamos? É duro dizermos que é uma vantagem quando pensamos nas medidas que tivemos de tomar para aqui chegar e no impacto que elas tiveram na vida das pessoas, mas, sim, é verdade que, para o bem ou para o mal, tivemos de nos readaptar. E hoje conseguimos ter processos de funcionamento e uma racionalização na utilização dos meios que nos permitem ter uma vida muito diferente da que imaginávamos há quatro ou cinco anos.
Nas contas da Impresa, no segundo trimestre do ano, as receitas publicitárias caíram 11,2%. A quebra do mercado é o grande desafio que se coloca neste momento a qualquer gestor de media? Sem dúvida. O mercado deve estar a cair 20% este ano e isso é um grande desafio. Nos últimos quatro, o mercado publicitário terá caído 40%. 300 milhões de euros... À volta disso, sim. É brutal. O esforço de adaptação que todas as estações têm feito é brutal. Com consequências tão visíveis como o facto de este ano nenhum dos operadores principais ter entrado na disputa dos jogos da I Liga de futebol. Pergunta-me como se supera esse desafio. Bem, temos duas variáveis para mexer: uma é a dos custos, que não é uma forma de gestão muito divertida mas é inevitável, outra é a das receitas. Desse ponto de vista, a SIC tem feito, quanto a mim, um trabalho notável.
Pedro Norton: "O destino da RTP é fundamental para o sector"
Esta realidade do mercado não obrigará, a curto/médio prazo, a nova necessidade de rescisões amigáveis ou despedimentos? Neste momento, estamos a trabalhar no exercício do orçamento para 2013 e há um conjunto de variáveis que não estão definidas, como por exemplo ainda não sabemos muito bem o que vai acontecer no último trimestre do ano. As coisas mudam hoje muito em cima do momento. Além disso, não sabemos o que vai acontecer à RTP. Estamos a fazer o orçamento para 2013 e temos planos de contingência para qualquer eventualidade. Por isso, é muito prematuro dizer o que quer que seja sobre isso. Há muitas variáveis em aberto.
O destino que o governo der à RTP é fundamental na definição do orçamento da SIC? O destino da RTP vai ser fundamental para o sector. Não tenho a menor dúvida sobre isso.
Neste momento, há uma grande indefinição sobre o futuro da RTP. Qual seria a melhor solução para a RTP e para os privados? Deixe-me que lhe diga que não sou governante, felizmente, porque também não lhes gabo a sorte. Portanto, compreenda que não me compete definir o modelo político para a RTP.
Mas enquanto gestor tem uma opinião... O que acho é que nesta conjuntura será um erro aumentar o número de minutos de publicidade na RTP. O mercado caiu 40% nos últimos quatro anos. Todos os agentes do mercado, desde as estações generalistas privadas até aos produtores, passando pelas agências, são unânimes: oferecer mais minutos de publicidade no mercado português neste momento terá efeitos catastróficos para a indústria.
Que efeitos? Acha que algum dos operadores existentes corre risco de vida? Vai ter efeitos não só para os operadores televisivos mas também para os produtores, para as agências e até para outros segmentos de mercado. Com o aumento da publicidade na televisão, não tenho dúvidas de que assistiremos, na imprensa, ao encerramento de títulos e publicações do mercado português.
Se toda a gente no mercado é unânime em relação a isso, por que razão é ainda uma hipótese teórica? Acha que os governantes desconhecem a realidade do mercado? Não lhe sei explicar, terá de perguntar a quem de direito. O que sabemos é que existem seis modelos para a RTP que estão a ser estudados. Não os conheço todos, portanto, acho que temos de esperar. Este debate deve ser feito com alguma serenidade. Não vale a pena comentarmos hipóteses teóricas. Vamos esperar para ver o que o novo presidente da RTP e o governo decidem para a empresa e, depois, então sim, elaborar comentários.
Enquanto gestor, que opinião tem de Alberto da Ponte, o novo presidente da RTP? Acho que Alberto da Ponte é um gestor de créditos firmados, um excelente gestor, tal como era, aliás, o seu antecessor, Guilherme Costa. Desse ponto de vista, a RTP está bem servida.
O serviço público: Ao longo destes 20 anos, um dos cavalos de batalha da SIC em relação à RTP era que a televisão pública fazia "concorrência desleal". Foi uma acusação muitas vezes repetida por Francisco Balsemão. Qual é a sua opinião? Sente que a RTP faz concorrência desleal às privadas? O modelo em que se mistura publicidade comercial com uma missão de serviço público assenta numa certa contradição dos termos. Não é muito saudável. Reconheço, contudo, que as administrações que têm passado pela RTP nos últimos anos têm revelado uma preocupação crescente de gerir os meios à sua disposição, mas o modelo misto tem essa perversão intrínseca.
Enquanto conhecedor do mercado, sente que faz falta uma televisão de serviço público, ou que os mecanismos de regulação e autorregulação são suficientes? Por mais paradoxal que isso seja, nunca se estabilizou a definição de serviço público. Não é, ainda hoje, um conceito consensual.
Como assim? Há 20 anos, pelo menos, que andamos a discutir isso... Não digo o contrário, mas a minha definição de serviço público é seguramente diferente da sua. Provavelmente, ninguém sabe definir.
E é definível ou estamos a tentar definir o sexo dos anjos? É seguramente definível em termos mais concretos do que atualmente. E esse é o ponto de partida para qualquer discussão. Não sei se faz falta uma televisão de serviço público se não souber o que é serviço público.
Mas o que é feito da discussão de gente tão relevante da sociedade portuguesa e da análise de, pelo menos, dois grupos de trabalho nomeados pelos governos nos últimos dez anos? É uma boa pergunta. Seria bom estabilizar-se essa reflexão em algum consenso, mas não vejo isso a acontecer. Por exemplo, ninguém sabe o que é feito das conclusões do último grupo de trabalho. Passou um ano e ninguém sabe o que é feito dessas conclusões.
O governo revê-se nelas? Aparentemente, estão na gaveta... Portanto, aparentemente, não é bem naquilo que o governo se revê.
Tal como a GFK... que é a coisa mais credível do mundo!
ResponderEliminarA SIC devia era ter mais investidores.
ResponderEliminarPorque que a SIC não produz uma novela das 19h sozinha e com os seus próprios meios