terça-feira, 30 de outubro de 2012
ESTA "AVENIDA" É O BRASIL
Zona norte, empregadas e classe média: esta 'Avenida' é o Brasil
Da Austrália ao Reino Unido, dos EUA a França, o final de Avenida Brasil teve lugar de destaque nos media internacionais. BBC, The Guardian, Forbes, The Washington Post contaram a peripécia do comício eleitoral cancelado pela "presidenta" Dilma Rousseff, cujo bom senso lhe fez perceber que fazer atividade política à hora do último capitulo da novela, não era uma boa ideia . "É bom o facto de os media internacionais terem começado a falar das novelas. Os intelectuais voltaram-se para este fenómeno para perceber o que é este produto", reconhece Maria Immacolata Vassallo de Lopes.
Para percebermos a geografia de Avenida Brasil é preciso compreendermos a lógica socioeconómica do Rio de Janeiro. "É uma grande mais-valia a novela passar-se no subúrbio. Geralmente, o núcleo protagonista está na zona sul e os secundários vão parar algures no subúrbio. Aqui, em Portugal, não é muito diferente. As nossas novelas também se passam em Cascais, Quinta da Marinha, Estoril, e depois há as zonas menos nobres da Grande Lisboa, onde vivem os menos ricos", explica Rui Vilhena.
O autor de êxitos da TVI como Tempo de Viver e Olhos nos Olhos diz que o segredo do êxito da trama escrita por João Emanuel Carneiro está no facto de o "público gostar muito de fazer de detetive" e no estilo cinematográfico, a fazer lembrar as séries norte-americanas. "A luz fica mais bonita e parece cinema. Sem dúvida que é mais caro, mais trabalhoso e demora mais tempo, mas o produto final não tem comparação possível. E torna-se mais fácil de exportar um produto", prevê Vilhena.
Até chegar a esta Avenida, dificilmente veríamos uma cabeleireira recusar-se a abrir um salão na zona mais in do Rio de Janeiro só porque os vizinhos em Ipanema não se conhecem e jamais veríamos uma empregada doméstica tentar trocar as voltas à patroa e tornar-se, ao longo da trama, elemento essencial para o desenrolar da intriga. Cacau Protásio, que dá vida à "empreguete" Zezé, parceira da maldade de Carminha, explica quão revolucionário foi João Emanuel Carneiro ao tornar o staff da casa de Tufão mais do que simples semifigurantes. "A minha personagem não está só ali para abrir a porta. As empregadas, hoje, têm muito mais espaço na televisão brasileira [a novela de acesso ao prime time Cheias de Charme, protagonizada por Taís Araújo, que contou a história de três empregadas que conseguem subir na vida e que terminou em setembro, abriu caminho]. Isso aproxima as patroas, as empregadas e até o público masculino, que está sendo absurdo [muito] nesta novela", explica a atriz.
Em entrevista ao programa de informação Globo Repórter, João Emanuel Carneiro confessou que "tinha muita vontade de fazer uma novela toda ela suburbana. "Quis inverter os padrões que ditam que a zona sul é o lugar onde se passa a novela e o subúrbio é o núcleo pobre, adjacente. Aqui, foi o contrário. O subúrbio foi o núcleo central e a zona sul a sobremesa. A cultura carioca ultimamente é muito forte no subúrbio e tem-se impondo na zona sul", explicou o autor, que teve como principal inspiração o clássico O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas.
Carneiro quis, para lá da temática da vingança que percorre toda a trama, mostrar uma outra realidade que ocorre nas classes em ascensão do seu país natal: o ascendente feminino e a importância deste na organização das comunidades suburbanas do Rio de Janeiro. "Uma coisa que tenho observado no subúrbio é que as mulheres tem vindo a ser cada vez mais dominantes", explicou o homem responsável pelo fenómeno de audiências que é Avenida Brasil.
Fonte: Noticias TV
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