Entrou
para a RTP, há 31 anos, por concurso público. Depois de duas décadas de
jornalismo na estação pública, tem dado cartas ao longo dos últimos 6 anos como
comentador nas manhãs da TVI e da SIC. Hernâni Carvalho não esconde o seu
espírito crítico...
Quando
lhe ligámos a pedir esta entrevista, a sua primeira reação foi perguntar
"o que é que eu fiz de mal desta vez?" É seu costume fazer assim
tantas coisas "mal"? "[risos] Não.
As pessoas é que se incomodam muito com alguns comentários. A verdade é que
tenho 30 anos de carreira e nunca fui condenado em tribunal, mas passo lá a
vida."
Porque
é que as pessoas se incomodam assim tanto com o que diz? "Provavelmente
por ser assertivo no que digo. Não sou mais nem sei mais do que qualquer um de
nós, mas olho de forma desassombrada para as coisas e chamo-as pelos nomes. Um
touro é um touro. Ponto final."
E
agarrar esse touro pelos cornos, como se diz, traz-lhe problemas? "Tem-me
trazido ao longo da vida. O importante é fazer as coisas com honestidade. E
falar com o advogado para lhe dizer (vamos ter mais um processo porque vou
falar esta verdade) [risos]."
Sabe
quantos processos tem em tribunal? "Não
[risos]. Acho que nem o advogado sabe."
Foi o
seu percurso profissional que o levou a ser assertivo ou o facto de o ser é que
o encaminhou para o jornalismo? "Provavelmente
foi mais esta maneira de ser."
Sempre
foi assim? "Sempre.
E sempre paguei caro por dizer na cara das pessoas o que pensava delas."
Fez em
dezembro do ano passado 30 anos de carreira. Porquê jornalismo? "Não
sei... já em miúdo escrevia nos jornais de liceu, da paróquia... Depois, em
1982, entrei para os quadros da RTP por concurso público. Foi na estreia das
instalações da RTP na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Comecei a colaborar na
redação do Telejornal de fim de semana, na altura dirigido pelo Rui Tovar.
Lembro-me da primeira investigação que fiz, sobre a aquisição de carros em
grupo. Foi uma investigação dolorosa porque nessa altura as câmaras ocultas não
estavam assim tão disponíveis [risos]."
Ou
seja, começou a trabalhar desde logo na área da investigação e do crime... "Logo.
Eu só queria ser jornalista, mas quando somos novos fazemos aquilo que nos
deixam. Tinha a vantagem de ter sido militar e voluntário na Cruz Vermelha, por
isso estava minimamente dentro dos assuntos da Administração Interna. Como na
altura esta área não dava muito glamour e ninguém a queria fazer, lá fui eu."
Trocou
o jornalismo pelo comentário. Esse reconhecimento não o fez querer continuar no
jornalismo? "Mas se
eu amanhã for convidado para ir para uma redação, estou aberto a isso. Têm é de
me pagar o que eu mereço [risos]."
Porque
passou de jornalista a comentador? "Porque
com todos os defeitos que os espaços da manhã possam ter, acabam de fazer mais para
esclarecer as pessoas sobre algumas matérias do que 24 de informação. Ali há
tempo para isso."
Sente-se
a voz de muita gente? "Sinto
que há muita gente que se identifica com muitas opiniões ou com os factos.
Quando conto que um doente tem urgência em ser operado aos olhos, que o médico
lhe diz que só daí a oito meses, é natural que muitas pessoas se identifiquem
comigo porque isto é o pão nosso de cada dia dos portugueses."
Pedem-lhe
muitas vezes ajuda? "Sim...
sim... As pessoas pensam que nós resolvemos os problemas."
O
Hernâni é pai e já disse em tempos, que os seus filhos foram
ameaçados. Isso não o faz ponderar ser menos frontal? "Muito."
O que é
que fala mais alto? "A noção
que tenho de lhes dar de comer."
O que
mais lhe dizem na rua? "Uma
expressão muito engraçada: força!"
Fonte: Noticias TV
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