JOSÉ ALBERTO BASTOS E SILVA foi, em 1992, um dos fundadores da SIC. Estava connosco desde a primeira hora e à SIC deu muito da sua vida e do seu esforço.
Vinha de outros meios e de outros mundos. Trabalhara na Ásia e em África e fomos buscá-lo ao Quénia, onde era Director Geral das Páginas Amarelas.
RAPIDAMENTE se impôs como Director Comercial da estação que encetava o seu caminho como primeira televisão privada portuguesa. Não foi fácil o arranque: o percurso era desconhecido, os obstáculos vários – a começar pela guerra de preços imposta pela RTP – e, até 1995, as audiências não atingiram o que pretendíamos e que julgávamos fácil de atingir.
O seu instinto de velejador – era no mar que ele se realizava e se sentia melhor – ajudou-o e ajudou-nos a encontrar soluções, algumas delas inovadoras na altura, como o famoso acordo com a Cola Cao, que nos obrigou a longas negociações em Lisboa e Barcelona. E, com Bastos e Silva ao leme, a Direção Comercial da SIC foi avançando, melhorando os resultados, alcançando os objetivos.
Na sequência da crise interna de 2001, Bastos e Silva foi chamado a assumir responsabilidades mais vastas. A sua promoção a Director Geral permitiu-lhe reagir e controlar os gastos que encontrou.
Passámos por dois anos difíceis, mas a SIC voltou a singrar, a ser rentável e recuperou o seu papel cimeiro na área dos media em Portugal.
JOSÉ ALBERTO BASTOS E SILVA nunca perdeu a calma e a compostura em qualquer momento. Era um gentleman, com os seus hobbies bem aprofundados – os barcos, os carros antigos, a agricultura em Rio Maior – e sabia impor-se mesmo nas circunstâncias mais tempestuosas, sem nunca se exaltar. A sua formação de psicólogo permitia-lhe analisar as pessoas, avaliar as situações e abordar cada caso da maneira mais adequada. Quando, sem nunca largar a SIC, da qual continuou a ser membro do Conselho de Administração e da Comissão Executiva, assumiu funções num âmbito mais alargado do Grupo Impresa, nomeadamente como membro do Comité de Coordenação do Grupo, na Impresa Media Solutions e como nosso representante na CAEM, a sua postura de lealdade e de compreensão pelo que estava em jogo nunca se alterou. O seu parecer continuou a ser solicitado dentro e fora da Impresa, sobretudo no que tinha a ver, directa ou indirectamente, com a estratégia comercial e de marketing.
Quando a doença o atacou, José Alberto Bastos e Silva demonstrou, mais uma vez, as suas qualidades morais e a sua grandeza como ser humano.
NUNCA DESISTIU até ao último momento. Prestou-se às operações mais dolorosas e aos tratamentos mais traumáticos. Lutou pela vida sem hesitações e só isso, com o apoio inestimável da sua Leonor, da filha Joana e das enteadas, lhe permitiu aguentar a proliferação das metástases durante tanto tempo.
Saía da quimioterapia e vinha trabalhar. Não queria ficar em casa, precisava de estar ocupado. Tentou uma solução alternativa na Alemanha e acreditou nela até ao fim.
Foi trabalhando ao longo de muitos meses, participando nas reuniões semanais e mensais, analisando documentos que eu lhe enviava, propondo soluções, estudando e comentando as informações sobre o mercado publicitário que ele próprio obtinha e ordenava. E teve ainda o prazer de conhecer a primeira neta.
A MORTE levou-o quando a sua resistência física já não aguentou mais.
Mas a morte não o venceu porque ele lutou sempre, todos os dias, e venceu um conjunto de batalhas que poucas pessoas conseguiriam vencer.
Faleceu um grande senhor a quem muito devemos. A sua memória permanecerá bem viva e estimular-nos-á a seguir o seu exemplo.
Francisco Pinto Balsemão
Fonte: Meios & Publicidade
Foram senhores assim que permitiram a qualidade televisiva que temos hoje em Portugal!
ResponderEliminarDescanse em paz.
Morreu um homem bom.
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