Encarnar
os Homens da Luta dá-vos coragem para enfrentar determinadas situações?
Não se explica racionalmente isso,
pois envolve adrenalina. Por exemplo, estivemos na manifestação na Maternidade
Alfredo da Costa, vestidos de mulheres, com barrigas de grávidas, ridículos.
Antes de chegarmos estamos nervosos, é sempre assim. Mas depois começa a
música, o quiririri, o barulho da malta e pronto.
E como é que nasceram os Homens da Luta?
De uma piada entre mim e o meu irmão, como
aliás já é habitual. Estávamos a ver imagens de uma manifestação na televisão e
começámos a dizer coisas do género: "É pá, hoje a luta foi cansativa.
Amanhã vou meter folga à luta..." Como se fossemos dois profissionais
daquilo. E logo sentimos que tínhamos criado ali qualquer coisa. Começámos por
fazer a luta pura e dura, a dizer mal, a criticar. Um dia, em 2008, num comício
do Sócrates, decidimos ir lá dizer bem. "Força Sócrates, tu és bom para a
luta". E isso fez-nos ganhar um fôlego novo, pois entrámos na ironia.
Agora entrámos noutra fase, quase surreal, de levar os temas à letra. Por
exemplo: o pacote de ajuda (arranjamos uma brasileira com um ganda ‘pacote' e
lá vamos nós). Não há limites. Somos livres e esse é o nosso segredo.
Qual foi a maior loucura que já fez?
Saltar de pára-quedas. Brincámos com a
emigração e o conceito de ‘dar o salto'. O problema é que eu e o meu irmão
temos medo de alturas. Depois logo se vê.
Vocês que andam no meio das pessoas sentem
mais revolta?
Infelizmente sinto mais resignação. Por um
lado, o sentimento de revolta e mostrá-la é uma válvula de escape. Mas quando
começamos a sentir que já nem vale a pena dar esse grito é quando se entra numa
fase negativa e perigosa, em que começamos a carregar para dentro e chega a um
ponto a coisa explode. Isso está a acontecer na Grécia, por exemplo. As pessoas
já começam a perder a esperança. É como a injustiça que eu estava a falar, de
ver gajos a fazerem m... e não lhes acontece nada. Isso só gera sentimentos
como a inveja.
Nunca tiveram medo?
Talvez no 12 de Março. Foi um dia histórico,
com muita gente na rua, muita gente com raiva. Estava com receio, mas fomos,
pois tínhamos de ir. De repente estávamos na Avenida da Liberdade no meio de
200 mil pessoas, todos a cantar. Estivemos mais de cinco horas seguidas
naquilo. A certa altura, uma velhinha veio ter comigo, abraçou-me e disse:
"Ó filho, todas te querem."
Como é o homem por detrás do Neto?
Tranquilo. Tenho uma vida normal, uma mulher,
uma filha. Encaro o que faço como uma profissão e não como uma missão.
Consegue separar bem as coisas?
No início era mais inquieto. Felizmente isso
tem-me passado. Até porque tenho conseguido trabalhar. A verdade é que não me
iludo com facilidade. Sei que dependo sempre dos resultados. Não tenho
padrinhos, nunca tive. E isso faz-me ter força todos os dias. E o facto de isso
não ser uma regra em todas as áreas revolta-me. Se calhar esse é o maior mal de
Portugal.
Refere-se a algum caso em particular?
Refiro-me a todas as situações que são
alheias aos resultados. Vamos imaginar que sou humorista e algumas pessoas bem
colocadas acham-me graça, acham que sou genial. Por isso dão-me um programa e
este tem maus resultados. Acham que o problema são as pessoas, que são burras.
Por isso dão-me mais um programa e este volta a ter maus resultados. Mais uma
vez a culpa é das pessoas, que não percebem como sou genial. Por isso dão-me
mais um programa... Isto acontece muito. Mas eu defendo a ditadura do
resultado. Não levo a mal que quando fizer uma coisa que não dê certo me peçam
para encostar. Isso aconteceu-me na SIC Radical e fez-me bem, obrigou-me a
abrir a pestana, fazer-me à vida. A única justiça que pode haver é a justiça
dos resultados. Há muita gente que pensa que o povo é burro, o que é um bode
expiatório excelente. Mas o povo é sábio. E se o povo não acolhe o que eu faço
sou eu que não estou a fazer bem. Isso tem sido o segredo da nossa longevidade.
Por isso é que os Homens da Luta se assumem como populista.
Fonte: Noticias:TV