O líder dos Homens da Luta considera o humor uma arma poderosa, mas recusa-se a fazer apologias políticas e prefere o deboche…
Espera-se alguma candidatura política da vossa parte este ano?
Não, essa aspiração já nos passou. Mas as pessoas pedem-nos para o fazer.
E ao estrangeiro?
Não sei, vamos ver. Para a luta continuar viva temos de estar sempre a lançar desafios novos. Mas o futuro não sei.
Como foi a experiência nos Estados Unidos?
Fomos participar na campanha do Obama e foi muito mais difícil lá do que cá, sobretudo por causa da barreira da língua. Pois o programa era para ser visto cá. Por acaso, de todos os que fizemos na SIC Radical foi o que teve piores audiências. Mas gostámos muito de lá estar e divertimo-nos muito.
Como começou a sua carreira na comédia?
Quando percebi que não ia ser jogador de futebol nem o Jim Morrison aceitei fazer aquilo que faço melhor: ter muita lata. Mas o mérito é dos Gato Fedorento. Quando eles começaram, em 2004, todos diziam que eles eram muito bons e eu não achava graça. Aquilo picava-me. Achei que também podia fazer comédia. Juntei dinheiro, tirei um curso de editor de vídeo e criei os meus primeiros personagens: o russo, o toxicodependente, o Miguel Martins, um gajo que vendia Portugal aos terroristas. Peguei naquilo e levei ao Rui Unas. Ele curtiu e deu-me uma rubrica no ‘Cabaret da Coxa', da SIC Radical. Daí fui para o ‘Revolta dos Pastéis de Nata', na RTP. No fundo foi o facto de não gostar dos Gato que me estimulou a fazer comédia. É um pouco o segredo de conseguir manter uma certa sanidade mental. Se os visse, não gostasse e não fizesse nada tornava-me ressabiado e invejoso.
Quando estiveram afastados da TV apostaram na internet. Como foi?
Para quem faz conteúdos, como nós, é uma revolução. O facto das coisas que fazemos estarem disponíveis online é que faz com que se consiga fazer o crossover. Isso aconteceu com os Gato Fedorento e com muitos outros. Com o aparecimento do facebook é que temos trabalhado mais nessa área e lançámos a nossa banda. Estamos com cerca de 440 mil pessoas inscritas e isso permite-nos divulgar tudo aquilo que fazemos.
O Falâncio inspirou-se no Zeca Afonso. É um ídolo vosso?
O Zeca Afonso é uma das minhas maiores referências artistas. Levamos muita porradinha de muita gente por causa disso, de pessoas que gostam de sacralizar. Penso exatamente o contrário. Sou muito influenciado pelo Zeca. Tenho quase uma dívida pessoal para com ele, pois as músicas dele ajudam-me. O Falâncio é claramente uma homenagem ao Zeca Afonso. A filosofia dos Homens da Luta, a nossa bitola, é precisamente ‘o que faz falta é animar a malta'. Mas há muitos amigos do Zeca Afonso que não gostam nada de nós, levam a mal, acham que estamos a gozar. Curiosamente, sou amigo pessoal da família do Zeca Afonso e ela gosta de nós. Inconscientemente estamos a levar o Zeca Afonso aos miúdos.
E o Neto é inspirado em quem?
Um pouco no José Mário Branco, um pouco no meu avô que tinha o seu toque revolucionário. Em personagens histriónicas. O Neto levanta a voz e dá uma sensação de poder muito forte. É quase um alter-ego. Ajudou-me muito a ser uma pessoa mais tranquila. O seu lado de afirmação, quase sexual, preenche-me. Quando chego a casa estou relaxado.
Foi pai há cerca de três meses. Como é que isso o mudou?
Mudou muito. Não mudou a forma como vejo as coisas, mas em termos de força. Sinto-me mais forte e sei que não posso vacilar. Não posso estar com ideias malucas. Mas tenho uma coisa que joga a meu favor: já fiz muita coisa nesta vida e não sinto necessidade de as fazer pois já as fiz. Já fiz muita maluqueira que não sei como vou explicar à minha filha quando ela crescer. Mas dá-me muita força e alegria. Adoro chegar a casa, pegar nela e mudar-lhe a fralda cheia.
PERFIL
Nuno Duarte, conhecido por ‘Jel', tem 37 anos. Depois de uma rubrica no ‘Cabaret da Coxa', entrou em ‘A Revolta dos Pastéis de Nata' (2005). Voltou à SIC com ‘Vai Tudo Abaixo' e os Homens da Luta que, em 2011, ganharam o Festival da Canção. É casado e tem uma filha.
Fonte: Noticias TV
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