Queixou-se da falta de
trabalho... Sim, porque depois do
‘Conta-me Como Foi’ estive como mulher-a-dias, como costumo dizer, a participar
em episódios de várias séries. E não é só o trabalho pela parte monetária, que
dá muito jeito, é o conviver com os colegas, o estar ativa. Com a minha idade,
a pessoa se não está ativa, se não convive...
Fecha-se? Exatamente. E eu já
estava a ficar assim.
Lamentou também que não haja
textos para a sua idade.
Eles acham que a
terceira idade não vende. As meninas bonitas, isso é que interessa. E depois
uma faixa etária abaixo da minha, felizmente, tem tido trabalho.
Será isso um espelho dos tempos.
Liga-se mais à imagem… Acho que sim. Uma pessoa nova faz o programa
‘x’ e depois é logo convidada para uma novela.
Teve sorte ou procurou-a? Eu nunca procurei nada.
As coisas têm-me acontecido. Nem sou de lutar. Às vezes digo "gostava
tanto…" Aliás, acho que um dos meus maiores defeitos é acomodar-me, não ir
à luta por mim. Pelos outros, sou capaz de ir. Estive na direção do sindicato,
fui delegada, fui da comissão de trabalhadores. E tenho sempre a resposta na
ponta da língua. Quando é pelo bem comum.
É tímida mas responde? Nessas alturas… Tenho
coluna vertebral, tenho profissionalismo, não admito que ataquem o meu
profissionalismo porque tenho consciência dele.
É integra? Acho que sim. Tenho
muito orgulho nisso. Os valores ainda cá estão. Transmiti-os aos meus filhos e
transmito-os aos meus netos.
Quem é a ‘Amélia’ que vai
interpretar na novela ‘Dancin’ Days’ (SIC)?
É uma personagem que não
existia no original. A novela está adaptada aos dias de hoje e a Portugal. Sou
empregada numa casa há 40 anos. O meu papel é um bocadinho cómico, estou sempre
a mandar bocas.
A palavra tem muita importância
para si?
Tem. A palavra escrita e
a palavra dita. Eu ouço as pessoas a falar, seja ou não na televisão, com umas
vozes e pergunto-me como é possível estar neste meio com uma voz destas…
A voz tem de transmitir
emoções?
Tem. Temos de ter uma voz bem colocada,
porque se temos uma voz completamente na cabeça, não convencemos. A voz tem de
estar no peito. Sou muito sensível à voz. Quando ouço as pessoas a falar com a
voz estridente, toda na cabeça, fico arrepiada.
PERFIL
Catarina Avelar nasceu em 1939 numa família dedicada às
artes. Frequentou o Conservatório e em 1957 ingressou no Teatro Nacional D.
Maria II, onde esteve 47 anos. Assídua dos ecrãs, destacou-se em ‘Cuidado com
as Aparências’ (SIC), ‘Amanhecer’ (TVI) e ‘Conta-me Como Foi’ (RTP 1).
Fonte: Vidas
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