Com quase dez anos de carreira, a atriz é uma das apostas do remake da novela Dancin’Days, na SIC.
Sem meias-palavras, Ana Guiomar revela à VIP que os tempos difíceis que o País atravessa, principalmente na área das artes, não a fazem desistir da sua carreira. “Nada é seguro”, diz, no entanto é otimista e quer acreditar que é possível viver da representação. A namorar há seis anos com o também ator Diogo Valssassina, a jovem confessa que ele tem sido o seu principal pilar ao longo da carreira. Aos 23 anos, a atriz, que integra o elenco da nova novela da SIC, Dancin’Days, revela-se tranquila e feliz.
Entrará no remake de Dancin’ Days. Como será esse novo papel?
Ana Guiomar – A personagem é extremamente interessante e divertida de se fazer. Vai ser muito bom. Estou a trabalhar com gente com quem já tinha trabalhado. A cumplicidade e o à-vontade são muito maiores.
Foi nomeada para Melhor Atriz pela Sociedade Portuguesa de Autores com a peça Purga. Como recebeu a notícia?
Foi muito bom, sem dúvida alguma. Adorei estar na peça e já tenho muitas saudades de a fazer. A nomeação foi uma coisa que não estava minimamente à espera. Tive pouca experiência em teatro, aliás, esta foi a única peça que fiz. Já tinha feito Confissões de Adolescente, mas não tinha nada a ver. Não estava mesmo à espera. É sempre bom quando o nosso trabalho é reconhecido.
Também participou na curta-metragem Beija-me Depressa, nomeada para o Festival de Cinema de Taiwan. Como reagiu?
Foi muito bom para o realizador que está a começar e para a formação dele. Gosto muito de apoiar as pessoas que estão a começar na realização. Gosto de fazer as curtas do Conservatório, da Lusófona ou de projetos de produtoras independentes. Há trabalhos muito interessantes e pessoas com ideias muito valiosas. Se todos apoiarmos, daqui a uns anos podem mesmo vir a ser o futuro.
Considera que o fator sorte foi importante para a sua entrada no mundo da representação?
Em tudo é preciso sorte. Até para se ser advogado ou médico. Mas antes da sorte, vem também a cabeça. Morangos Com Açúcar foi uma experiência que adorei. Há muita gente que é contra, outros que são a favor, outros que dizem mal e outros que dizem que nunca passariam por lá e depois acabam por passar. Nos Morangos aprendi praticamente a técnica toda. É uma grande escola. Nos projetos seguintes podemos pôr em prática tudo aquilo que absorvemos. O fator sorte conta, claro, porque no primeiro casting é preciso ter alguma sorte. Daí para a frente, se acreditarmos em nós, se não quisermos tudo muito depressa e se gerirmos bem as coisas é possível fazer uma carreira. Quero acreditar que consigo viver como atriz ainda alguns anos. Gostava de viver o resto da vida, mas se não for possível, pelo menos mais uns anos.
Tem saudades dessa época inicial na representação?
Tenho muitas saudades. Costumo dizer que se tivesse o poder de me enfiar numa máquina do tempo não me importava nada de passar por lá mais dois ou três dias. Era muito mais inconsciente, era tudo muito mais fácil, não tínhamos tantos problemas, era muito bom.
Se não tivesse entrado nos Morangos Com Açúcar, acha que estaria nesta área ou teria enveredado por outra?
Não sei, porque antes disso já tinha feito alguns castings e pequenas participações. Não sei se tinha chegado tão rapidamente onde queria e aos projetos que cheguei. Claro que os Morangos deram-me um reconhecimento maior pela popularidade da série e pelas pessoas que a viam, que eram crianças. Ajudou-me bastante, foi um veículo ótimo e acho que ainda hoje está a ser um veículo muito bom para muita gente.
O que gosta mais de fazer na representação?
Gosto de todas as áreas. Tenho muito pouca experiência de cinema a nível profissional. Tirando A Vida Privada de Salazar, tudo o que fiz foram sempre projetos low budget e com pessoas inexperientes no meio. Comecei nos Morangos, por isso é muito difícil para mim dizer que não gosto de televisão. Gosto de televisão, da rapidez, do processo, do fazer 20 a 30 cenas por dia, do vestir e despir depressa. Gosto muito do ambiente e das pessoas. Sinto-me muito bem e confortável. O teatro foi uma experiência recente. Gostei muito, apesar do primeiro mês de ensaios ter sido um processo muito duro para mim, quer a nível psicológico, quer a nível físico. Nunca achei que conseguisse fazer uma personagem tão densa e não acreditava em mim ainda o suficiente para o conseguir fazer. Foi graças às pessoas do Teatro Aberto, que acreditaram em mim antes de eu própria acreditar. Isso foi muito importante. Gostava muito de repetir a experiência a nível de teatro. Acho que agora iria encarar as coisas de outra forma, iria estar mais relaxada e menos ansiosa. Mas acho que isso faz parte e até torna as coisas mais interessantes.
Já ponderou ir para fora estudar representação ou até mesmo trabalhar?
Nesta fase não era capaz de o fazer. Sou muito ligada à minha família e não era capaz de me ausentar durante um ano ou dois para ir para os EUA estudar, até porque acho que a formação lá é boa, mas é mais a nível pessoal e para o nosso trabalho de casa. O trabalho cá não tem nada a ver com o método de lá. Eles fazem cinema, têm um orçamento gigante e é tudo muito diferente. Se fosse estudar para fora, talvez fosse para Madrid, que é bastante perto e também tem cursos muito bons. O Brasil também seria uma boa hipótese porque fazem muitas novelas e está muito mais direcionado para o nosso mercado. Mas se conseguisse juntar um bom dinheiro e se pudesse tirar dois anos de férias, até podia ir para os EUA, mas tinha de vir cá de vez em quando porque sou muito ligada à família.
Aos 23 anos, pode gabar-se de já ter uma carreira. Como têm sido estes quase dez anos?
Gostei de todos os projetos que fiz, assim como de todas as personagens. Os processos foram todos bons. Nunca tive um grande período sem saber o que iria fazer a seguir. Já experimentei os três canais. O balanço é muito positivo. Não sou nada daquelas pessoas que se queixam. Se este ano for tão bom como o ano passado ou como o anterior já é muito bom.
Quais são as suas perspetivas enquanto atriz?
Quero muito acreditar que é possível viver disto. As culturas e as artes estão um bocadinho tremidas neste país, mas gostava de acreditar que é possível viver disto em Portugal e se não for a fazer televisão, que seja a fazer teatro ou locuções. Gosto mesmo muito daquilo que faço.
Via-se a fazer outra coisa que não isso?
Sim. Não sou daquelas pessoas que diz que não se via a fazer mais nada. Via, se calhar até via. Não me importava de ter um estabelecimento para gerir, mas não seria para lá estar todos os dias.
Tem o 12.º ano, mas tal como referiu “para o país que temos já é bom”. Os seus pais sempre a apoiaram neste caminho para a representação?
Quando entrei nos Morangos estava no 8.º ano. Fiz a escola toda durante as gravações, portanto os meus pais sempre me apoiaram. Ao início eles nunca acreditaram que eu pudesse seguir isto. Acharam que eu iria fazer os Morangos e que quando acabasse não iria ter mais convites. Nem sequer punham essa hipótese porque achavam que era tudo uma brincadeira e que depois seguia o meu caminho normal. Ia para a faculdade ou acabava o 12.º ano e ia trabalhar noutra coisa. Quando perceberam, tiveram dúvidas e receios, mas acho que em qualquer área uma pessoa que seja mãe ou pai hoje em dia tem receios. Nada é seguro.
Namora há seis anos com o Diogo Valsassina. É uma relação que começou nos Morangos. Ele tem sido o seu pilar neste seu crescimento?
Sim, ele tem sido um dos meus pilares. Porque a casa é composta por vários. A minha relação com o Diogo é ótima. Temos uma relação acima de tudo de amizade. Antes de começarmos a namorar, já éramos amigos e isso foi muito bom para nos conhecermos bem. É uma relação de respeito e de confiança. Divertimo-nos imenso, sabemos rir-nos de nós próprios, não vamos juntos a todo o lado, cada um tem a sua vida, ajudamo-nos um ao outro com algumas críticas. E basicamente é isso. É muito simples e muito natural.
Há dois anos que vive com ele. Como foi essa mudança?
Foi boa. Nós já nos conhecíamos. Ele já ficava em minha casa porque eu morava sozinha. Também foi uma coisa natural. Foi ficando a escova de dentes, o pente, as calças, os ténis e pronto...
Aos 18 anos, dizia que ainda não pensava em casar e ter filhos, mas que adoraria chegar aos 80 anos e ter a casa cheia de filhos e netos. Ainda pensa assim?
Sim, gostava. Impressiona-me aquelas pessoas que morrem sozinhas e que ficam sozinhas no fim da vida. Por acaso é uma coisa que me faz pensar. Nós, aos 30 anos, estamos tão bem fisicamente e com tanta energia para apostar tudo na nossa carreira que começamos a ter filhos cada vez mais tarde e às vezes o cada vez mais tarde, nem sequer chega lá. Há pessoas que não têm relógio biológico, eu não sei se tenho ou não, ainda não tocou aqui para estes lados, de facto. Mas a solidão é uma das coisas que me faz confusão. Vejo também pelos meus avós. É tão bom o Natal. As árvores têm de dar frutos.
E antes de ter filhos, pondera casar?
Só se for pela festa, mas não é uma coisa que eu perdesse três ou quatro meses a preparar ou que gastasse 30 ou 40 mil euros. Nunca! Preferia dar a volta ao Mundo!
Dizia com a mesma idade que era bom que não faltasse trabalho, mas que não se importaria nada de um dia ser rica, ter um iate e uma casa com 30 guarda-roupas.
Acho que ninguém se importava.
Tendo isso, o que faltaria para ser realmente feliz?
Tanta coisa... Adorava ter cinco ou seis cães. Adorava que a minha família tivesse toda saúde e que vivesse confortavelmente e muito bem até ao fim. Gostava de dar continuidade à família.
Qual é o seu maior receio?
Tenho muito medo da morte. Nunca perdi ninguém muito próximo. Acho que esse é mesmo o meu maior receio porque ainda não me conheço a esse nível. Já perdi alguns amigos, uns até públicos, mas assim familiares com quem esteja todos os dias nunca perdi. Perder alguém é o meu maior medo.
Um sonho... Cada dia surge um... Toda a gente sonha ganhar um Óscar ou fazer um filme em Hollywood. Mas isso já nem considero sonhos, porque já é um cliché que toda a gente na minha profissão diz. É ter trabalho e continuar como eu sou.
Fonte: VIP
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